segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Clarice Lispector...

MEDO DO DESCONHECIDO

Então isso era a felicidade. E por assim dizer sem motivo. De início se sentiu vazia. Depois os olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz, e preferem a mediocridade.


DIES IRAE

Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece. E nem ao menos posso fazer o que uma menina semiparalítica fez em vingança: quebrar um jarro. Não sou semiparalítica. Embora alguma coisa em mim diga que somos todos semiparalíticos. E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior - vive-se, sem ao menos uma explicação. E ter empregadas, chamemo-las de uma vez de criadas, é uma ofensa à humanidade. E ter a obrigação de ser o que se chama de apresentável me irrita. Por que não posso andar em trapos, como homens que às vezes vejo na rua com barba até o peito e uma bíblia na mão, esses deuses que fizeram da loucura um meio de entender? E por que, só porque eu escrevi, pensam que tenho que continuar a escrever? Avisei a meus filhos que amanheci em cólera, e que eles não ligassem. Mas eu quero ligar. Quereria fazer alguma coisa definitiva que rebentasse com o tendão tenso que sustenta meu coração.
E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se. Nenhuma ocupação lhe agrada. Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia. E criaram o Dia dos Analfabetos. Só li a manchete, recusei-me a ler o texto. Recuso-me a ler o texto do mundo, as manchetes já me deixam em cólera. E comemora-se muito. E guerreia-se o tempo todo. Todo um mundo de semiparalíticos. E espera-se inutilmente o milagre. E quem não espera o milagre está ainda pior, ainda mais jarros precisaria quebrar. E as igrejas estão cheias dos que temem a cólera de Deus. E dos que pedem a graça, que seria o contrário da cólera. (...).

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

João Cabral de Melo Neto... alguns poemas...

O MUSEU DE TUDO

Este museu de tudo é museu,
Como qualquer outro reunido;
Como museu, tanto pode ser
Caixão de lixo ou arquivo.
Assim, não chega ao vertebrado
Que deve entranhar qualquer livro:
É depósito do que aí está,
Se fez sem risca ou risco.



O FIM DO MUNDO

No fim de um mundo melancólico
Os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
Que ardem como o sol.

Me deram uma maçã para lembrar
A morte. Sei que cidades telegrafam
Pedindo querosene. O véu que olhei voar
Caiu no deserto.

O poema final ninguém escreverá
Desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim me preocupa
O sonho final.



O ARTISTA INCONFESSÁVEL

Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
Mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
Que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
Que ele é inútil, e bem sabendo
Que é inútil e que seu sentido
Não será sequer pressentido,
Fazer: porque ele é mais difícil
Do que não fazer, e dificilmente
Se poderá dizer
Com mais desdém, ou então dizer
Mais direto ao leitor Ninguém
Que o feito o foi para ninguém.

VoLtEi... CoM aLgUmAs FrAsEs...

"Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer."

(Ítalo Calvino)

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"Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir."

(Paul Valéry)

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"Não consigo imaginar um único inimigo. Ninguém me interessa o suficiente para que eu possa odiá-lo."

(Paulo Francis)

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"O maior erro que um homem pode cometer é pensar no erro que vai cometer."

(Sêneca)

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"O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, é o inatingível. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes, é a oportunidade."

(Victor Hugo)

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"A verdadeira viagem não consiste em sair à procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos."

(Marcel Proust)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Anna Akmatova

OS MISTÉRIOS DO OFÍCIO

De que servem exércitos de canções
E o encanto das elegias sentimentais?
Para mim, na poesia, tudo tem de ser desmesurado,
E não do jeito como todo mundo faz.

Se vocês soubessem de que lixeira
Saem, desavergonhados, os versos,
Como dente-de-leão que brota ao pé da cerca,
Como a bardana ou o cogumelo.

Um grito que vem do coração, o cheiro fresco de alcatrão,
O bolor oculto na parede...
E, de repente, a poesia soa, calorosa, terna,
Para a minha e tua alegria

(Anna Akmatova)

domingo, 2 de agosto de 2009

O que passou, passou?

Antigamente, se morria em 1907, digamos, aquilo sim é que era morrer.
Morria gente todo dia, e morria com muito prazer, já que todo mundo sabia que o Juízo, afinal, viria, e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor, como se amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto, um lenço no vento, um suspiro e pronto, lá se ia o nosso defunto para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado, morrer era um tipo de festa, uma das coisas da vida, como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha. Sempre alguém tinha uma frase que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa. Pepino com leite, vento encanado, praga da velha e amor mal curado.
Tinha coisas que têm que morrer, tinha coisas que têm que matar.
A honra, a terra e o sangue mandou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer, nos idos de 1916, a não ser pegar pneumonia, e virar fotografia?
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Quem mandou não ser devoto de Santo Inácio de Acapulco, Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba, tomou banho e foi no vento.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade, a ciência da eternidade inventou a crônica.
Hoje sim, pessoal, a vida é crônica.

(Paulo Leminski)

Guimarães Rosa...

"Toda saudade é uma espécie de velhice"

(Guimarães Rosa)

Millôr...

"Os uísques das nossas noites têm de ser pagos com o suor dos nossos dias"

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cartas da Prisão (trechos)

* Era preciso um Deus que se fizesse o último dos homens; nascido num estábulo, perseguido pelos fariseus, dormindo à beira das estradas, cuspido no rosto, coroado de espinhos e pregado numa cruz. Eu jamais poderia crer num Deus que não tivesse, ele próprio, sido o mais oprimido dos homens. Nem poderia ter uma fé que não tivesse como centro a Páscoa.

* Mas, a vida é isto mesmo: uma árdua e imprevisível caminhada em direção do eterno. É lá que nos encontraremos e ficaremos juntos para sempre. Por isso só vale a pena viver na medida em que nossos gestos são gestos de amor, pois só o amor é absoluto, radical, transformante e profundamente unificante. Esse amor nos une em qualquer circunstãncia, tempo e lugar.

* A perda da liberdade não pode acarretar a perda da dignidade.

* O sofrimento é tanto menos, quanto mais somos capazes de assumi-lo, dominá-lo e transformá-lo.

* Elite e subproletariado caracterizam-se pela ociosidade e marginalidade de seus membros, violência de seus métodos de sobrevivência, esterilidade intelectual, carência de padrões, de consciência crítica e de perpectiva histórica. Na expressão de Ortega, têm vida apenas como processo biológico e não como processo biográfico. O que as diferencia é o fato de a primeira situar-se no cume da pirâmide social como detentora do poder e a segunda situar-se na base, abaixo da superfície, como a camada mais oprimida, desprovida inclusive de qualquer resquício de consciência de classe. Entre os seus membros predomina o mais exacerbado individualismo, são incapazes de se unir mesmo em função de seus interesses fundamentais e nada mais têm a perder.

* A solidão pode significar demissão enquanto a buscamos para fugir dos outros e das responsabilidades que nos aguardam. Então ela traz, ao covarde, o lúgubre consolo da opacidade de seus gestos e pensamentos. Mas, por outro lado, ela é indispensável ao homem engajado, por mais ativa e atribulada que seja a sua práxis. Ela o impede de ser tragado pelo ativismo que põe em risco o próprio êxito da luta e proporciona o recuo necessário à visão de conjunto, à crítica e autocrítica. Sem ela o entusiasmo pode conduzir ao fanatismo, o poder à prepotência, a fé ao fetichismo e ao ritualismo. Nela, ao contrário, o homem se abastece, recupera suas energias criativas, areja o espírito, avalia corretamente o real e, sobretudo, recobra o bom senso. Colocando o homem diante de si mesmo, a solidão é comom um espelho no qual ele vê tudo aquilo que em sua vida é detrito, carga supérflua, poeira acumulada - e essa limpeza purifica e renova-o.

(Frei Betto)

Estratégia

Dia vai vir
Você vai ter que travar
Batalhas de verdade

Ai da tua estratégia
Ai da tua tática
ai da tua defesa
ai do teu ataque
Se você não fez bom uso
Do tempo da sua paz

Pense nisto, rapaz
E nunca, nunca, nunca mais
Olhe pra frente
Sem antes olhar para trás

(Paulo Leminski)

Lygia Fagundes Telles...

O preço da criação literária seria mesmo o sofrimento? Penso na minha experiência e lembro que justamente nos instantes mais agudos das minhas atribulações eu não consegui escrever uma só palavra. Mesmo depois, na convalescença, se vinha a vontade, faltava a energia, o movimento era apenas da alma. Olhava para a minha mesa como alguém com sede fica olhando um copo d´água: quer beber mas fica rodeando o copo, faz outras coisas na frente embora pense o tempo todo na água, não faz o gesto essencial para tomá-la. Não sei dizer se os frutos colhidos mais tarde (alguns até doces) teriam vindo dessa figueira brava.

(Lygia Fagundes Telles)

Mário Pirata...

A mais bela ponte construída no planeta é a distância entre um olhar e outro.

(Mário Pirata)

Rachel de Queiroz...

Minha tragédia pessoal énão acreditar em Deus. Tragédia íntima, intransferível. E isso muitas vezes incomoda. Dói por dentro. Não ter fé é a mesma coisa, por exemplo, que não ter a mão. Não acreditar em Deus remete a um grande desgosto difícil de descrever. Nas horas de sofrimento é que se sente o desamparo, a ausência desse Deus a quem se possa recorrer. Mas falta a fé, a religião na qual as pessoas sempre encontram um refúgio nos momentos dolorosos.

(Rachel de Queiroz)

Adélia Prado...

O poeta cerebral tomou café sem açúcar e foi para o gabinete concentrar-se. Seu lápis é um bisturi que ele afia na pedra calcinada das palavras, imagem que ele elegeu porque ama a dificuldade, o efeito respeitoso que produz seu trato com o dicionário.

(Adélia Prado)

Disney...

Mickey Mouse é o meu próprio otimismo. Um otimismo bastante esclarecido para saber que o progresso consiste em dois passos para a frente e um passo para trás. Esse passo para trás não significa que o progresso não exista. Da mesma forma que o bem existe. E eu acredito nele.

(Walt Disney)

Franklin...

O tempo perdido não se encontra nunca mais.

(Benjamin Franklin)

Trabalho

Não vieste à Terra para perguntar
Se Deus, vida ou morte existem ou não

Pego a ferramenta para trabalhar
Pondo na tarefa cada pulsação

Ferramenta tens, não procures em vão -
Saúde, fé em ti, arte eficiente,
Capacidade, poder de expressão,
Coração sensível e força da mente

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lao-Tsé...

A maneira de fazer é sendo.

(Lao-Tsé)

Graham Greene...

Fico me perguntando como é que aqueles que não escrevem, compõem ou pintam conseguem escapar do medo, que é inerente à condição humana.

(Graham Greene)

Jung...

A coisa mais aterrorizante é se aceitar completamente.

(Carl Jung)

Michelângelo...

Minha alma não consegue encontrar uma escada para o céu que não seja através da beleza do mundo.

(Michelângelo)

Emily Dickinson...

Viver é algo tão espantoso, que sobra pouco tempo para qualquer outra coisa.

(Emily Dickinson)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Medo

Ficam todos atrás de mim para eu me exercitar,
Entrar em forma, jogar futebol,
Me apressar, até ir nadar e voar.
Bastante razoável.

Ficam todos atrás de mim para eu me acalmar.
Todos marcam consultas médicas para mim,
Me olhando daquele jeito inquiridor.
O que é isso?

Ficam todos atrás de mim para que eu faça uma viagem,
Entrar, partir, não viajar,
Morrer, e de forma alternativa, não morrer.
Não importa.

Ficam todos vendo coisas esquisitas
Nas minhas entranhas, subitamente chocados
Com os radiopavorosos diagramas.
Não concordo com eles.

Ficam todos escarafunchando a minha poesia
Com seus garfos e facas incansáveis,
Tentando, sem dúvida, encontrar uma mosca.
Tenho medo.

Eu tenho medo do mundo inteiro,
Medo da água fria, medo da morte.
Sou como todos os mortais,
Incapaz de ser paciente.

E assim, nesses dias breves e fugazes,
Vou tirá-los da cabeça.
Vou me abrir e me encarcerar
Com meu inimigo mais traiçoeiro,
Pablo Neruda.

(Pablo Neruda)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Hilda Hilst...

O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus.
Tentou na palavra o extremo-tudo
E esboçou-se santo, prostituto e corifeu. E infância
Foi velada: obscura na teira da poesia e da loucura.
A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito
Tempo-Nada na página.
Depois, transgressor metalescente de percursos
Colou-se mà compaixão, abismos e à sua própria sombra.
Poupem-no o desperdício de explicar o ato de brincar.
A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo.
O Caderno Rosa é apenas resíduo de um "Potlatch".
E hoje, repetindo Bataille:
"Sinto-me livre para fracassar".

(Hilda Hilst)

Cartão de Natal

Pois que reinaugurando essa criança
Pensam os homens
Reinaugurar a sua vida
E começar novo caderno,
Fresco como o pão do dia;
Pois que nestes dias a aventura
Parece em ponto de vôo, e parece
Que vão enfim poder
Explodir suas sementes:

Que desta vez não perca esse caderno
Sua atração núbil para o dente;
Que o entusiasmo conserve vivas
Suas molas,
E possa enfim o ferro
Comer a ferrugem
O sim comer o não.

(João Cabral de Melo Neto)

Meu Melhor Livro de Leitura

Estas estorinhas, sem princípio nem fim.
Estórias de Carochinha, edição antiga, desenho antigo, preto e branco.
Meus filhos, meus sobrinhos, meus netos... Minha descendência tão linda e sadia, minhas raízes ancestrais, minha cidade.
Meu rio Vermelho debaixo da janela, janelas da vida, meu Ipê florido, vitalizado pelo emocional de Clarice Dias.
Minha pedra morena. Minha pedra mãe. Quem assentará você sobre o meu túmulo no meu retorno às origens de todas as origens?
Minha volta ao mundo na lei de Kardec...
Vou reviver na menina Georgina.
Estarei presente no meu dicionário, meu livro de amor que tanto me ensinou e corrigiu.
Minhas estórias de Carochinha, meu melhor livro de leitura, capa escura, parda, dura, desenhos preto e branco.
Eu me identificava com as estórias.
Fui Maria e Joãozinho perdidos na floresta.
Fui a Bela Adormecida no Bosque.
Fui Pele de Burro. Fui companheira de Pequeno Polegar e viajei com o Gato de Sete Botas. Morei com os anõezinhos.
Fui a Gata Borralheira que perdeu o sapatinho de cristal na correria da volta, sempre à espera do princípe encantado, desencantada de tantos sonhos nos reinos da minha cidade.

Mãe Didi... Por onde vão os rumos de meus pensamentos, sempre presente minha madrinha fada.
Eu a vejo em Mãe Didi.
Tia Nhorita, Didinha, seus farnéis inesgotáveis de bondade, de biscoito e brevidades, sustentando Aninha, desamada, abobada e feia, caso perdido, pensavam todos.

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher.

(Cora Coralina)

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.

(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Machado de Assis...

Palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução; alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies.

(Machado de Assis)

Mário de Andrade...

Será que a liberdade é uma bobagem?...
Será que o direito é uma bobagem?...
A vida humana é que é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões.
E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens.
A liberdade não é um prêmio, é uma sanção.
Que há de vir.

(Mário de Andrade)

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Balada de Amor Através das Idades

Eu te gosto, você me gosta
Desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
Troiana mas não Helena,
Saí de cavalo de pau
Para matar seu irmão
Matei, brigamos, morremos.

Virei soldado romano,
Perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
Encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
Caída na areia do circo
E o leão que vinha vindo,
Dei um pulo desesperado
E o leão comeu nós dois

Depois fui pirata mouro,
Flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
Onde você se escondia
Da fúria do meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
E te fazer minha escrava,
Você fez o sinal-da-cruz
E rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
Fui cortesão de Versalles,
Espirituoso e devasso,
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
Mas complicações políticas
Nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno
Remo, pulo, danço, boxo,
Tenho dinheiro no banco.
Você é uma loira notável,
Boxa, dança, pula, rema.
Seu pai que não faz gosto,
Mas depois de mil peripécias,
Eu, herói da Paramount,
Te abraço, beijo e casamos.

(Carlos Drummond de Andrade)

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(Marina Colasanti)

Nada me Demove

Nada me demove
Ainda vou ser
O pai dos irmãos Karamazov

(Paulo Leminski)

No Corpo

De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares

O sonho na boca, o incêndio na cama,
O apelo da noite
Agora são apenas esta
Contração (este clarão)
Do maxilar dentro do rosto.

A poesia é o presente.

(Ferreira Gullar)

domingo, 7 de junho de 2009

Um Beijo

Foste o melhor beijo da minha vida
Ou talvez o pior, ... glória e tormento
Contigo a luz subi no firmamento
Contigo fui pela infernal descida!

Morreste; e o meio desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches me o pensamento
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca mal-ferida

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que feliz, eu não morri contigo?

Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto
Beijo divino, e anseio, delorante,
Na perpétua saudade de um minuto.

(Olavo Bilac)

Mário Pirata...

Nem a estação, nem a viagem.
A poesia, meu irmão, é a paisagem.

(Mário Pirata)

Nova Poética

Vou lançar a teoria do poeta sórdido
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:
É a vida
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero
Sei que a poesia é também orvalho
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens
Cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.

(Manuel Bandeira)

Cecília Meireles...

Onde é que dói minha vida, para que eu me sinta tão mal?

(Cecília Meireles)

Leminski...

Eu
Tão isósceles
Você
Ângulo
Hipóteses
Sobre meu tesão
Teses
Sínteses
Antíteses
Vê bem onde pises
Pode ser meu coração

(Paulo Leminski)

Millôr...

A beleza é a inteligência à flor da pele.

(Millôr Fernandes)

Umberto Eco...

Sempre que me perguntam que livro eu levaria para uma ilha deserta, respondo "a lista telefônica: com todas aquelas personagens eu poderia inventar um número infinito de histórias!"

(Umberto Eco)

Thomas Mann...

É preciso ter estado em alguma prisão para se tornar poeta.

(Thomas Mann)

Drummond...

Todo namorado que se preze deve inventar as besteiras líricas e deliciosas que a gente não diz para qualquer pessoa, só para uma e só em momentos de pura delícia. Funcionam? E como!

(Carlos Drummond de Andrade)

Borges...

A originalidade é impossível. No máximo, podemos variar muito ligeiramente o passado, dar-lhe um novo matiz, uma nova entonação. Cada geração escreve o mesmo poema, conta o mesmo conto. Com uma pequena diferença: a voz.

(Jorge Luis Borges)

Bernard Shaw...

Não há amor mais sincero do que o amor à comida.

(George Bernard Shaw)

Marquês de Maricá...

Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas.

(Marquês de Maricá)

Kafka...

Você pode afastar-se dos sofrimentos do mundo, isto é algo que está livre para fazer e de acordo com sua natureza, mas este recuo talvez seja precisamente o único sofrimento capaz de evitar.

(Franz Kafka)

Fernando Sabino...

Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam:
- Que é que você quer ser quando crescer?
Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino.

(Fernando Sabino)

Clarice Lispector...

Continuo com capacidade de raciocínio - já estudei matemática que é a loucura do raciocínio - mas agora quero o plasma - quero me alimentar diretamente na placenta. Tenho um pouco de medo: medo ainda de me entregar pois o próximo instante é o desconhecido. O próximo instante é feito por mim? Ou se faz sozinho? Fazemo-lo juntos com a respiração. E com uma desenvoltura de toureiro na arena.

(Clarice Lispector - Água Viva)

Martha Medeiros...

Completamente feliz em todos os aspectos da sua vida
Não, isso você nunca sentiu
Se de amor está perdido
Ainda assim falta um botão na camisa
E sendo tão bem correspondido
Certamente deixou pra trás
Algum caso mal resolvido
Se acertou na profissão
Mesmo assim ficou devendo um favor a um amigo
E se tem confusão
Em algum lugar do planeta
Não se iluda
De alguma maneira você deve estar envolvido

(Martha Medeiros)

Chaplin...

Eu continuo a ser uma coisa só
Um palhaço
O que me coloca em nível bem mais alto que o de qualquer político.

(Charles Chaplin)

Graham Greene...

O senhor se interessa por uma pessoa, não pela vida, e as pessoas morrem ou nos abandonam... Mas, se estivermos interessados pela vida, ela jamais nos decepcionará. Eu me interesso pelo tom azulado do queijo. O senhor não se dedica a palavras cruzadas, pois não, Sr. Wormold? Eu me dedico, e elas são como as pessoas: a gente chega a um fim. Posso terminar qualquer palavra cruzada no espaço de uma hora, mas tenho uma descoberta, quanto ao tom azulado do queijo, que jamais chegará a uma conclusão... embora, claro, a gente sonhe que, talvez, possa chegar um momento em que...

(Henry Graham Greene)

Sartre...

Escritores de domingo! Pequenos burgueses que escreviam anualmente um conto, ou cinco ou seis poemas, para pôr um pouco de ideal na vida. Por higiene.

(Jean-Paul Sartre)

Olavo Bilac...

Não és bom nem és mau: és triste e humano.

(Olavo Bilac)

Cecília Meireles...

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí.

(Cecília Meireles)

Lygia Fagundes Telles...

O escritor é um ser que tem ou não tem vocação; se ele a tem, ela é, segundo Stendhal, a felicidade de exercer o ofício da paixão. Então, para esse escritor que está exercendo o ofício da paixão, não importa se está vivendo na Idade Média ou se está vivendo em tempos duros. Eles mantém sempre o seu tema, que é a condição do homem.
(...)
O escritor além de lutar com a palavra, que, como diz o poeta, é a luta mais vã, tem que lutar com sua própria circunstância, que, num país como o nosso, é dificílima. Nós, brasileiros, temos, por exemplo, um problema seríssimo, que é o analfabetismo. Se não tivermos pessoas alfabetizadas, nós, escritores, não seremos lidos; então, o escritor cairá em processo de extinção, como a árvore e o índio..

(Lygia Fagundes Telles)

Guimarães Rosa...

O bom escritor é um descobridor; (...). Considero a língua como meu elemento metafísico: escrevo para me aproximar de Deus, estou sempre buscando o impossível, o infinito. (...) Sou místico: posso permanecer imóvel durante longo tempo, pensando em algum problema a esperar. (...) Nós, sertanejos, somos tipos especulativos, a quem o simples fato de meditar causa prazer. (...) Os livros nascem quando a pessoa pensa; o ato de escrever já é a técnica e a alegria do jogo com as palavras. (...) Faço do idioma um espelho da minha personalidade para viver: como a vida é uma corrente contínua, a linguagem também deve evoluir constantemente (...). Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito. Vivo no infinito, o momento não conta (...). Existem elementos da língua que não podem ser captados pela razão; para eles são necessárias outras antenas. (...) Meus livros são escritos em um idioma próprio, um idioma meu (...); não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros.

(Guimarães Rosa)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mário Benedetti - Uma Homenagem Póstuma! =(

Cotidiana 1

A vida cotidiana é um instante
De outro instante que é a vida total do homem
Mas por sua vez quantos instantes não há de ter
Esse instante do instante maior

Cada folha verde se move ao sol
Como se perdurar fosse seu inefável destino
Cada pardal avança a saltos imprevistos
Como burlando-se do tempo e do espaço
Cada homem se abraça a alguma mulher
Como se assim agarrasse a eternidade
E contudo cada instante
Ou seja cada partícula de pó
É também um copioso universo

Com crepúsculos e catedrais e campos de cultivo
E multidões e cópulas e desembarques
E bêbados e mártires e colinas

E vale a pena qualquer sacrifício
Para que esse abrir e fechar de olhos
Abarque por fim o instante universo
Com um olhar que não se envergonhe
De sua reveladora
Efêmera
Insubstituível
Luz


Tática e estratégia

Minha tática é
Olhar-te
Aprender como és
Querer-te como és

Minha tática é
Falar-te
E escutar-te
Construir com palavras
Uma ponte indestrutível

Minha tática é
Ficar em tua lembrança
Não sei como nem sei
Com que pretexto
Mas ficar-me em vós

Minha tática é
Ser franco
E saber que és franca
E que não nos vendamos
Simulacros
Para que entre os dois
Com que pretexto
Por fim me necessites


Em pé

Continuo em pé
Por pulsar
Por costume
Por não abrir a janela decisiva
E olhar de uma vez a insolente
Morte
Essa mansa dona da espera

Continuo em pé
Por preguiça nas despedidas
No fechamento e demolição
Da memória

Onde cair
Morto


Currículo

A história é muito simples
Você nasce
Contempla atribulado
O vermelho azul do céu
O pássaro que emigra
O primitivo besouro
Que seu sapato esmagará
Valente

Você sofre
Reclama por comida
E por costume
Por obrigação

Você aprende
E usa o aprendido
Para tornar-se lentamente sábio
Para saber que no fim o mundo é isto
Em seu melhor momento uma nostalgia
Em seu pior momento um desamparo
E sempre e sempre
Uma confusão

Então
Você morre

domingo, 17 de maio de 2009

Leminski...

Inverno
Primavera
Poeta é
Quem se considera.

(Paulo Leminski)

Cervantes...

Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender.

(Miguel de Cervantes)

Martha Medeiros...

Quem você pensa que é
Perguntou pra mim
De queixo em pé

Sou forte, fraca, generosa
Egoísta, angustiada, perigosa,
Infantil, astuta, aflita,
Serena, indecorosa,
Inconstante, persistente,
Sensata e corajosa
Como é toda mulher
Poderia ter respondido

Mas não lhe dei esta colher.

(Martha Medeiros)

Hemingway...

Os mortos não precisam levantar.
São uma parte da terra agora, e a terra nunca pode ser conquistada, sobreviverá a todos os sistemas de tirania: aqueles que nela entraram de maneira honrada - e não houve homens que entraram mais honrosamente do que os que morreram na Espanha - já alcançaram a imortalidade.

(Ernest Hemingway)

Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrias irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!

(Augusto dos Anjos)

Mário Quintana...

O autodidata é um ignorante por conta própria.

(Mário Quintana)

No ano que vem

No ano que vem,
Vou fazer um check-up,
Reformar os meus ternos,
Vou trocar os meus móveis,
Viajar no inverno,
Como convém.

No ano que vem,
Vou me fantasiar,
Desfilar na avenida,
Decorar samba enredo,
Vou mudar minha vida,
Como convém.

No ano que vem,
Faço vestibular,
Vou tocar clarineta,
Aprender a dançar valsa
Fox-trot ou salsa,
Como convém.

E vou me converter
No ano que vem,
Registrar a escritura,
Vou pagar a promessa
E andar mais depressa.
Como convém.

No ano que vem,
Vou tratar meus dentes,
Visitar uns parentes,
Vou limpar o porão,
Vou casar na igreja,
Como convém.

No ano que vem,
Vou soltar busca-pé,
Empinar papagaio,
Vou comer manga-espada
E sentar na calçada
Até.

No ano que vem,
Vou pagar minhas dívidas,
Apagar minhas dúvidas
E trocar o meu carro
E largar o cigarro.
Como convém.

No ano que vem,
Vou fazer um regime,
E vou mudar de time,
Viajar para a França
E estudar esperanto.
Como convém.

Vou plantar uma rosa
No ano que vem
E escrever um romance
E fazer exercício,
Desde o início,
Como convém.

E entrar para a política
E me candidatar,
No ano que vem,
Fazer revolução,
Lutar na Nicarágua,
Por que não?

E fazer uma plástica,
No ano que vem,
E ficar destemido,
Decorar um poema
E escrever pra você,
Como convém.

Se não der certo, no entanto,
Neste ano que vem,
Vou deixar de cobrança
Do que fiz ou não fiz.
Neste ano que vem,
Quero, como convém,
Ser, apenas, feliz.

(Sérgio Antunes)

Rimbaud...

O poeta se faz vidente
Através de um longo,
Imenso e refletido
Desregramento
De todos os sentidos.

(Arthur Rimbaud)

Encomenda

Desejo uma fotografia
Como esta - o senhor vê - como esta:
Em que para sempre me ria
Com um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
Derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga que me empresta
Um certo ar de sabedoria...

(Cecília Meireles)

Fernando Sabino...

Deus gosta mais de uns do que de outros. Essa é que é a Justiça Divina, a verdadeira, a que ninguém entende, nem eu, nem você. A outra, a que dizem por aí, é pura publicidade.

(Fernando Sabino - A Cidade Vazia)

Luís Poeta...

Depois que tempo
Virou dinheiro
Não há mais tempo
Para brincadeira
É assim que a alegria
Do final de semana
Se transforma
No mau-humor
De segunda-feira

(Luís Poeta)

Fernando Pessoa...

Durmo. Regresso ou espero?
Não sei. Um outro flui
Entre o que sou e o que quero
Entre o seu sou e o que fui.

(Fernando Pessoa)

Álvaro de Campos...

O dominó que vesti era errado.
Conheceram-em logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pregada à cara.

(Álvaro de Campos)

Guimarães Rosa...

Os outros têm uma espécie de cachorro farejador, dentro de cada um, eles mesmos não sabem. Isso feito um cachorro, que eles têm dentro deles, é uqe fareja, todo o tempo, se a gente por dentro da gente está mole, está sujo ou está ruim, ou errado... As pessoas, mesmas, não sabem. Mas, então, elas ficam assim com uma precisão de judiar com a gente...

(João Guimarães Rosa)

Drummond...

(...)
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.

(Carlos Drummond de Andrade)

Voltaire...

Crime é obedecer a ordens injustas.

(Voltaire)

Dois e Dois: Quatro

Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena

Como teus olhos claros
E a tua pele, morena

Como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terros me acena

E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- Sei que dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Mesmo que o pão seja caro
E a liberdade, pequena.

(Ferreira Gullar)

Freud...

Os homens não podem continuar sendo sempre crianças; devem, por fim, enfrentar a vida hostil. A isso podemos chamar de educação para a realidade.

(Sigmund Freud)

Lao Tsé...

Trinta raios rodeiam um eixo,
Mas é onde os raios não raiam que a roda roda
Vaza-se a vasa e se faz o vaso,
Mas é o vazio que perfaz a vasilha
Casam-se as paredes e encaixam portas,
Mas é onde não há nada que se está em casa
Falam-se palavras e se apalavram falas,
Mas é no silêncio que mora a linguagem.
O ser faz a utilidade,
Mas é o nada que perfaz o sentido.

(Lao Tsé Tung)

sábado, 2 de maio de 2009

Não Deixe o Amor Passar

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d´água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.

(Carlos Drummond de Andrade)

A Morte Absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.

(Manuel Bandeira)

Nasci Antes do Tempo

Tudo que criei e defendi
Nunca deu certo.
Nem foi aceito.
E eu perguntava a mim mesma
Por quê?

Quando menina,
Ouvia dizer sem entender
Quando coisa boa ou ruim
Acontecia a alguém:
Fulano nasceu antes do tempo,
Guardei.

Tudo que criei, imaginei, defendi
Nunca foi feito.
E eu dizia como ouvia
A moda de consolo:
Nasci antes do tempo.

Alguém me retrucou.
Você nasceria sempre
Antes do seu tempo.
Não entendi e disse Amém.

(Cora Coralina)

Da Felicidade

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!

(Mário Quintana)

Inefável

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas

(Cruz e Souza)

Subversiva

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

(Ferreira Gullar)

Poesias de Grandes Poetas

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela,
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

(Alberto Caieiro)

domingo, 26 de abril de 2009

O Suicida

Não restará na noite uma estrela.
Não restará a noite.
Morrerei e comigo a soma
Do intolerável universo.
Apagarei a acumulação do passado.
Farei pó a história, pó e pó.
Estou olhando o último poente.
Ouço o último pássaro.
Deixo nada para ninguém.

(Jorge Luis Borges)

Expectativas

Agora tenho data
As perguntas e dúvidas convocadas
São formas de nascer no nascido

Tenho ficado em suspense
Espero tudo e já não espero nada

Sei que não sou o mesmo
E quando enfim se abra a muralha
A primeira lembrança antrará lentamente
Com cuidado infinito e com uma bengala branca

(Mário Benedetti)

O Poeta e a Poesia

Não é o poeta que cria a poesia.
E sim, a poesia que condiciona o poeta.

Poeta é a sensibilidade acima do vulgar.
Poeta é o operário, o artífice da palavra.
E com ela compõe a ourivessaria de um verso.

Poeta, não somento o que escreve.
É aquele que sente a poesia,
Se extasia sensível ao achado
De uma rima, à autenticidade de um verso.

Poeta é ser ambicioso, insatisfeito,
Procurando no jogo das palavras,
No imprevisto do texto, atingir a perfeição inalcançável.

O autêntico sabe que jamais
Chegará ao prêmio Nobel.
O medíocre se acredita sempre perto dele.

Alguns vêm a mim.
Querem a palavra, o incentivo, a apreciação.
Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro...
Tão pobre ainda a sua bagagem cultural,
Tão restrito seu vocabulário,
Enxugando lágrimas que não chorou,
Dores que não sentiu,
Sofrimentos imaginários que não experimentou.

Falam exaltados de fome e saudades, tão desgastadas
De tantos já passados.
Primário nos rudimentos de sua escrita
E aquela pressa moça de subir.
Alcançar a estatura de poeta, publicar um livro,

Oriento para a leitura, reescrever,
Processar seus dados concretos.
Não fechar o caminho, não negar possibilidades.
É a linguagem deles, seus sonhos.
A escola não os ajudou, inculpados, eles.

Todos nós temos a dupla personalidade.
O id e o ego.
Um representa a vida física, material completa.
Pode ser brilhante, enriquecida de valores que ajudam a ser feliz,
Pode ser angustiada e vacilante, incerta, insatisfeita.
Mesmo possuindo o que deseja, nada satisfazendo.
O id representa sua vida interior paralela, ambivalente,
Exercendo seu comando em descargas nervosas,
No eterno conflito entre a razão e o impulso incontrolado.
Dupla vida inter e extra, personalidade se contrapondo.
Pode ser trivial e dependente, podemos fazê-la rica e cheia de nobreza,
Nos valendo da força imensurável do pensamento positivo
Emanado da vida interior que é o nosso mundo,
Invisível a todos, sensível ao nosso ego.

Há sempre uma hora maldita na vida de um homem.
Pode levá-lo ao crime e às paredes sombrias de uma cela escura.
Um curto circuito nas suas baterias carregadas,
Uma descarga nas linhas de transmissão potencial.
Daí, fatos aberrantes que surpreendem.
Conclusões demolidoras de um passado brilhante.

(Cora Coralina)

A Lição de Poesia

1.

Toda manhã consumida
Como um sol imóvel
Diante da folha em branco:
Princípio do mundo, lua nova.

Já não podias desenhar
Sequer uma linha;
Um nome, sequer uma flor
Desabrochava no verão da mesa:

Nem no meio-dia iluminado,
Cada dia comprado,
Do papel, que pode aceitar,
Contudo, qualquer mundo.


2.

A noite inteira o poeta
Em sua mesa, tentando
Salvar da morte os monstros
Germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas
De palavras, circulando,
Urinando sobre o papel,
Sujando-se com seu carvão.

Carvão de lápis, carvão
Da idéia fixa, carvão
Da emoção extinta, carvão
Consumido nos sonhos.


3.

A luta branca sobre o papel
Que o poeta evita,
Luta branca onde corre o sangue
De suas veias de água salgada.

A física do susto percebida
Entre os gestos diários;
Susto das coisas jamais pousadas
Porém imóveis - naturezas vivas.

E as vinte palavras recolhidas
As águas salgadas do poeta
E de que servirá o poeta
Em sua máquina útil.

Vinte palavras sempre as mesmas
De que conhece o funcionamento,
A evaporação, a densidade
Menor que a do ar.

(João Cabral de Melo Neto)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Guimarães Rosa...

A vida não é para principiantes.

(Guimarães Rosa)

Paulo Francis...

Quem não lê, não pensa.
Quem não pensa, será sempre um servo.

(Paulo Francis)

Rubem Fonseca...

Invenção vem da imaginação e a imaginação é um labirinto onde o difícil não é a saída, é a entrada.

(Rubem Fonseca)

Charles Chaplin...

O homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar.

(Charles Chaplin)

Sartre...

Existir é isso, beber-se a si próprio sem sede.

(Jean Paul Sartre)

Machado de Assis, a pedidos...

A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente.

***

Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.

***

BONS AMIGOS

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

(Machado de Assis)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A Grande Catástrofe

No início era o Verbo. O Verbo Ser.
Conjugava-se apenas no infinito. Ser, e nada mais.
Intransitivo absoluto.
Isso foi no princípio. Depois transigiu, e muito.
Em vários modos, tempos e pessoas. Ah, nem queiras saber o que são as pessoas: eu, tu, ele, nós vós, eles...
Principalmente eles!
E ante essa dispersão lamentável, essa verdadeira explosão do SER em seres, até hoje os anjos ingenuinamente se interrogam por que motivo as referidas pessoas chamam a isso de criação.

(Mário Quintana)

Millôr...

Gastronomia é comer olhando para o céu.

(Millôr Fernandes)

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... De desencanto...
Feche o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... Remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos, de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca

- Eu faço versos como quem morre.

(Manuel Bandeira)

Autopsicografia

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão
Esse comboio de corda
Que se chama o coração

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 21 de abril de 2009

Millôr...

Ninguém sabe o que você ouve, mas todo mundo ouve muito bem o que você fala.

(Millôr Fernandes)

Leonardo da Vinci...

Não há senão um mestre: a natureza.

(Leonardo da Vinci)

Guimarães Rosa...

O correr da vida embrulha tudo,
A vida é assim:
Esquenta e esfria,
Aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinqueta.
O que ela quer da gente é coragem.

(Guimarães Rosa)

Adélia Prado...

Eu quero uma licença de dormir,
Perdão para descansar horas a fio,
Sem ao menos sonhar
A leve palha de um pequeno sonho
Quero o que antes da vida
Dói o profundo sono das espécies,
A graça de um estado semente
Muito mais que raízes.

(Adélia Prado)

Cerimônia do Chá

Ainda ontem
Convidei um amigo
Para ficar em silêncio comigo.

Ele veio
Meio a esmo
Praticamente não disse nada
E ficou por isso mesmo.

(Paulo Leminski)

Cecília Meirelles...

Tenho fases
Como a lua
Fases de andar escondida,
Fases de vir para a rua...

(Cecília Meirelles)

Que Viva Hoje

Sem nenhuma acontecimento me provocando, sem nenhuma expectativa, de tarde, esta tarde, eu, aplicando-me na caligrafia como uma criança de escola, eu, também uma das freiras que costuram, em labor de abelha bordo a fio de ouro. Viva hoje.

(Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo)

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
Que se refugiou mais abaixo nos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
Não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
Existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro.

(Carlos Drummond de Andrade)

Voltaire...

Se Deus não existisse, haveria necessidade de inventá-lo.

(Voltaire)

Monteiro Lobato...

Só quem está asfixiado aprende que o ar existe.

(Monteiro Lobato)

Oscar Wilde...

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas não faz mais do que existir.

(Oscar Wilde)

Padre Antônio Vieira...

Aprendemos no céu o estilo da disposição, e também o das palavras. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo (...); muito distinto e muito claro. E nem por isso tomais que pareça o estilo baixo; as estrelas são muito distintas e muito claras, e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que não sabem e tão alto que tenham muito que entender os que sabem.

(Padre Antônio Vieira)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Você conhece meu outro blog?

Textos meus!!!

http://autobiografiadeumoutroeu.blogspot.com

Bjos,

Tereza

Clarice Lispector...

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

(Clarice Lispector)

Nelson Rodrigues...

A televisão matou a janela.

(Nelson Rodrigues)

Oswald de Andrade...

A poesia existe nos fatos.

(Oswald de Andrade)

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. O analfabeto político é tão ignorante que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra e corrupto.

(Bertold Brecht)

Isto

Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade
Querendo, quero o infinito
Fazendo, nada é verdade

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço.

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar além.
Vontades ou pensamentos?
Não sei e sei-o bem.

(Fernando Pessoa)

domingo, 19 de abril de 2009

Profissão de Fé

Invejo o ourives quando escrevo
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
(...)
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

(Olavo Bilac)

Bernard Shaw...

As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam.

(George Bernard Shaw)

O Processo de Criação

A literatura é uma maneira de não enlouquecer, de colocar no papel o seu delírio. Se você ficar só com o delírio, você se ferra.
A literatura precisa de uma certa impureza.
Quanto maior um escritor mais ele é isolado da realidade.

(Arnaldo Jabor)

Caio Fernando Abreu...

Nunca fui muito criança, era uma pessoa mais contemplativa, interiorizada. Achava tudo muito tolo, aliás, acho até hoje.

(Caio Fernando Abreu)

A Louca

Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história - Em seu passado
Houve um drama d´amor misterioso
- O segredo d´um peito torturado -

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

(Augusto dos Anjos)

Freud...

Um escritor dificilmente consegue nos dar uma explicação convincente sobre sua imaginação criativa. Porque na realidade o escritor não sabe com clareza quais são as razões determinantes da sua criação. O que em nada o desmerece.

(Sigmund Freud)

O Encontro

Subitamente
Na esquina do poema, duas rimas
Olham-se, atônitas, comovidas
Como duas irmãs desconhecidas...

(Mário Quintana)

Oscar Wilde...

Se um homem encara a vida de um ponto de vista artístico, seu cérebro passa a ser seu coração.

(Oscar Wilde)

Pablo Neruda...

Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias.

(Pablo Neruda)

Martha Medeiros...

Simplificar
Não exagerar os sentimentos
Arriscar
Não seguir os mandamentos
Vivenciar
Não mitificar os pensamentos
Assimilar
Não condecorar os ferimentos
Reinventar
Não copiar aos sete ventos
Amamentar
Não aprisionar os seus rebentos

Uma mulher adulta
Só conhece bons momentos

(Martha Medeiros)

Jean-Paul Sartre...

Levei uma vida desdentada. Uma vida desdentada. Nunca mordi; esperava, preservava-me para mais tarde - e acabo de perceber que não tenho mais dentes. Que fazer? Quebrar a concha? É fácil dizer. Aliás, que me restaria? Uma pequena massa viscosa que se arrastaria na poeira, deixando atrás de si uma esteira brilhante.

(Jean-Paul Sartre)

Shakespeare...

O amor é meramente uma loucura e, na minha opinião, merece uma casa escura e um chicote, como os loucos; a razão pela qual os amantes não são assim punidos e curados é que a loucura é tão comum que os homens do chicote amam também.

(Willian Shakespeare)

Mário Quintana...

Pior, mas muito pior mesmo do que as lágrimas de crocodilo, são os sorrisos de crocodilo...

(Mário Quintana)

A Câmara Viajante

Que pode a câmara fotográfica?
Não pode nada.
Conta só o que viu.
Não pode mudar o que viu.
Não tem responsabilidade no que viu.

A câmara, entretanto,
Ajuda a ver e rever, a multi-ver
O real, nu, cru, triste, sujo.
Desvenda, espalha, universaliza.
A imagem que ela captou e distribui.
Obriga a sentir,
A, criticamente, julgar,
A querer bem ou a protestar,
A desejar mudança.

A câmara hoje passeia contigo pela Mata Atlântica.
No que resta - ainda esplendor - da Mata Atlãntica
Apesar do declínio histórico, do massacre
De formas latejantes de viço e beleza.
Mostra o que ficou e amanhã - quem sabe? - acabará
Na infinita desolação da terra assassinada.
E pergunta: "Podemos deixar
Que uma faixa imensa do Brasil se esterilize,
Vire deserto, ossuário, tumba da natureza?"

Este livro-câmara é anseio de salvar
O que ainda pode ser salvo,
O que precisa ser salvo
Sem esperar pelo ano 2 mil.

(Carlos Drummond de Andrade)

Fernando Sabino...

A arte é uma maneira de ser dentro da vida. Há outras... É uma maneira de se vingar da vida. Assim como se você procurasse atingir o bem negativamente, esgotando todos os caminhos do mal. É preciso ter pulso, é preciso ter estômago.

(Fernando Sabino - O Encontro Marcado)

Clarice Lispector...

... Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.

(Clarice Lispector)

Canção de Amor

Como hei-de segurar a minha alma
Para que não toque na tua? Como hei-de
Elevá-la acima de ti, até outras coisas?
Ah, como gostaria de levá-la
Até um sítio perdido na escuridão
Até um lugar estranho e silencioso
Que não se agita, quando teu coração treme.
Pois o que nos toca, a ti e a mim,
Isso nos une, como um arco de violino
Que de duas cordas solta uma só nota.
A que instrumento estamos atados?
E que violinista nos tem em suas mãos?
Oh, doce canção.

(Rainer Maria Rilke)

Criação

Há no amor um momento de grandeza
Que é de insconciência e êxtase bendito:
Os dois corpos são toda a Natureza,
As duas almas são todo o infinito.

Um mistério de força e de surpresa!
Estala o coração da terra, aflito;
Rasga-se em luz fecunda a esfera acesa,
E de todos os astros rompe um grito.

Deus transmite o seu hálito aos amantes;
Cada beijo é a sanção dos Sete Dias,
E a Gênese fulgura em casa abraço;

Porque, entre as duas bocas soluçantes,
Rola todo o Universo, em harmonias
E em glorificações, enchendo o espaço!

(Olavo Bilac)

Leminski...

Parem
Eu confesso
Sou poeta
Cada manhã que nasce
Me nasce
Uma rosa na face

Parem
Eu confesso
Sou poeta
Só meu amor é meu Deus
Eu sou o seu profeta

(Paulo Leminski)

sábado, 18 de abril de 2009

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios
Nem o lábio amargo

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha esse coração
Que nem se mostra

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão curta, tão fácil
Em que espelho ficou perdida a minha face?

(Cecília Meireles)

Sejam Bem-Vindos!!!

Olá pessoal! Cá estou eu com mais um BLOG!
Será um vício? Uma obsessão?

Esse BLOG, entretanto, será diferente.

Enquanto no primeiro (http://autobiografiadeumoutroeu.blogspot.com/) eu posto sempre textos de minha autoria... Aqui irei postar textos, frases, poemas, trechos e aforismos de diversos autores nacionais e internacionais, de diversas escolas e estilos.

Quem quiser colaborar... Será bem-vindo!

Bjos a todos!

Tereza