terça-feira, 16 de junho de 2009

Medo

Ficam todos atrás de mim para eu me exercitar,
Entrar em forma, jogar futebol,
Me apressar, até ir nadar e voar.
Bastante razoável.

Ficam todos atrás de mim para eu me acalmar.
Todos marcam consultas médicas para mim,
Me olhando daquele jeito inquiridor.
O que é isso?

Ficam todos atrás de mim para que eu faça uma viagem,
Entrar, partir, não viajar,
Morrer, e de forma alternativa, não morrer.
Não importa.

Ficam todos vendo coisas esquisitas
Nas minhas entranhas, subitamente chocados
Com os radiopavorosos diagramas.
Não concordo com eles.

Ficam todos escarafunchando a minha poesia
Com seus garfos e facas incansáveis,
Tentando, sem dúvida, encontrar uma mosca.
Tenho medo.

Eu tenho medo do mundo inteiro,
Medo da água fria, medo da morte.
Sou como todos os mortais,
Incapaz de ser paciente.

E assim, nesses dias breves e fugazes,
Vou tirá-los da cabeça.
Vou me abrir e me encarcerar
Com meu inimigo mais traiçoeiro,
Pablo Neruda.

(Pablo Neruda)

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