quinta-feira, 11 de junho de 2009

Balada de Amor Através das Idades

Eu te gosto, você me gosta
Desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
Troiana mas não Helena,
Saí de cavalo de pau
Para matar seu irmão
Matei, brigamos, morremos.

Virei soldado romano,
Perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
Encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
Caída na areia do circo
E o leão que vinha vindo,
Dei um pulo desesperado
E o leão comeu nós dois

Depois fui pirata mouro,
Flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
Onde você se escondia
Da fúria do meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
E te fazer minha escrava,
Você fez o sinal-da-cruz
E rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)
Fui cortesão de Versalles,
Espirituoso e devasso,
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
Mas complicações políticas
Nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno
Remo, pulo, danço, boxo,
Tenho dinheiro no banco.
Você é uma loira notável,
Boxa, dança, pula, rema.
Seu pai que não faz gosto,
Mas depois de mil peripécias,
Eu, herói da Paramount,
Te abraço, beijo e casamos.

(Carlos Drummond de Andrade)

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